O escândalo de grampos telefônicos realizados pelo jornal britânico "News of The World", que está tendo grande repercussão no país, ganhou proporção ainda maior, após alegações de que o jornal teria invadido os telefones de famílias de vítimas dos atentados de 7 de julho de 2005, em Londres.
O escândalo a respeito de monitoramento de conversas telefônicas feitas pelo tabloide dominical surgiu em 2006, mas ganhou novo fôlego nessa semana, com a denúncia de que um detetive que trabalhava para o jornal teria grampeado o telefone celular de Milly Dowler, uma menina de 13 anos que desapareceu em 2002 e depois foi encontrada morta.
Também vieram à tona alegações de que o tabloide dominical teria feito pagamentos à polícia britânica em troca de informações. Os proprietários do tabloide entregaram à polícia e-mails que indicariam que o pagamento teria sido autorizado pelo então editor do jornal, Andy Coulson.
Coulson renunciou ao comando do "News of The World" em 2007, após um de seus repórteres e um detetive terem sido condenados por grampear telefones de integrantes da família real britânica. No início deste ano, ele renunciou ao cargo de porta-voz do primeiro-ministro britânico, David Cameron, após terem surgido novas denúncias envolvendo jornalistas do "News of The World" e outras tentativas de invadir os telefones de políticos e celebridades.
O "News of The World", que é o jornal mais vendido aos domingos na Grã-Bretanha, com uma circulação média de quase 2,8 milhões de exemplares, pertencente ao grupo News Corporation (News Corp.), um dos maiores conglomerados mundiais de mídia, pertencente ao magnata australiano Rupert Murdoch.
Os negócios do grupo envolvem TV, cinema, jornais e publicidade. A News Corporation é dona dos jornais britânicos "The Sun" e "The Times", do americano "Wall Street Journal" e da rede de TV americana Fox.
O escândalo vem gerando pressões pela demissão de Rebekah Brooks, que foi editora do "News of the World" quando teriam sido feitas as gravações do celular de Milly Dowler. Hoje, ela é executiva-chefe da News International, divisão responsável pelos jornais britânicos da News Corp.
Atentados
Graham Foukes, cujo filho morreu em um dos atentados realizados em 2005, no metrô de Edgware, foi informado pela polícia que seu nome constava de uma lista de pessoas que teriam tido seus telefones invadidos.
Em entrevista ao programa Today, da BBC, Foukes disse que a ideia de que as conversas dele e sua família estavam sendo monitoradas após o ataque que tirou a vida de seu filho é ''horrenda'' e afirmou que gostaria de ter "uma conversa" com Rupert Murdoch.
''Após as explosões em Londres, nenhuma autoridade nos contatou ou qualquer outra família (das vítimas) por várias dias. Estávamos usando o telefone loucamente para tentar obter informação a respeito de David e saber onde ele estava. Se ele estava em um hospital ou em outro lugar. E falamos muito intimamente a respeito de temas pessoas. A ideia que esses caras poderiam estar escutando tudo isso é horrenda'', afirmou.
Indagado se teria alguma mensagem a dar a Rupert Murdoch, Foukes acrescentou: 'Eu gostaria muito de encontrá-lo e ter uma conversa aprofundada a respeito de responsabilidade e do poder que ele tem e como ele deveria ser usado de forma apropriada. Eu gostaria muito de encontrá-lo e de ter essa conversa''.
Clarence Mitchell, o porta-voz do casal Kate e Gerry McCann, pais da menina Madeleine, que desapareceu em um resort em Portugal em 2007, também contou ter sido contatada pela polícia a respeito da investigação sobre os grampos telefônicos. Mitchell diz ter verificado atividades suspeitas em sua conta telefônica em 2008.
Parlamentares britânicos realizarão um debate emergencial a respeito do escândalo nesta quinta-feira. E alguns políticos vem pedindo o boicote do "News of The World".
A montadora Ford anunciou que deixará de anunciar no "News of The World" até a conclusão das investigações a respeito das alegações de grampo telefônico.
As alegações de que funcionários do "News of the World" estariam envolvidos em interceptação ilegal de telefones começaram a pipocar em 2006. Em 2007, a Justiça condenou à prisão o correspondente do jornal para assuntos da Realeza Clive Goodman e o investigador Glenn Mulcaire por causa do grampo ilegal de telefones de membros família real.
A Polícia Metropolitana de Londres iniciou uma nova investigação em fevereiro de 2011, após alegações de que mais de 7 mil pessoas, entre elas atores, políticos, jogadores de futebol, apresentadores de TV e outras celebridades, tiveram seus telefones hackeados.
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